Fiscalização falha coloca turismo de aventura em alerta após novas tragédias

Leonid Trofimov
Leonid Trofimov 18 Views 5 Min Read

O turismo de aventura no Brasil e no exterior voltou ao centro dos debates após uma série de acidentes recentes que expuseram falhas graves na fiscalização e na regulamentação de atividades realizadas em ambientes naturais. Casos como a morte de Juliana Marins na Indonésia durante uma trilha em um vulcão e os acidentes com balões de ar quente em cidades brasileiras como Boituva e Praia Grande levantaram questionamentos sobre a ausência de normas claras, falta de capacitação dos operadores e a negligência na aplicação das regras já existentes no setor.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura, a informalidade e a ausência de profissionais devidamente capacitados ainda são obstáculos críticos para o turismo de aventura atingir um padrão mínimo de qualidade e segurança. A vice-presidente da entidade, Fernanda Dornelles, destaca que apenas uma pequena parcela dos operadores brasileiros se compromete com as normas técnicas da ABNT e com boas práticas exigidas por lei. Essa falta de padronização contribui diretamente para o aumento do risco em atividades que deveriam ser marcadas pela responsabilidade e pelo respeito ao meio ambiente.

O turismo de aventura, apesar de representar um dos segmentos que mais crescem no setor turístico, sofre com a escassez de políticas públicas efetivas e com a falta de pressão do mercado para exigir a adoção de práticas seguras. A Abeta ressalta que é urgente transformar essas boas práticas em obrigações comuns para todas as operadoras, contratantes e destinos. Sem esse movimento coletivo, o turismo de aventura continuará sendo marcado por tragédias evitáveis e pela insegurança dos turistas.

Em resposta aos incidentes recentes, a Abeta divulgou um comunicado reforçando sua posição e manifestando solidariedade às vítimas. A associação lembra que atua desde 2003 na promoção da segurança no turismo de natureza, com iniciativas como o Programa Aventura Segura, que desenvolveu mais de 40 normas técnicas em parceria com o Ministério do Turismo, o Sebrae Nacional e a ABNT. Entre essas normas está a NBR ISO 21101, que estabelece diretrizes para o sistema de gestão da segurança em atividades de turismo de aventura e é prevista na legislação nacional.

Um dos principais pontos de preocupação apontados pela associação é o balonismo turístico, que ainda não conta com regulamentação técnica própria no Brasil. Atualmente, a regulamentação existente abrange apenas o balonismo desportivo, cuja responsabilidade é da ANAC. A falta de regras específicas, somada à deficiência na fiscalização e à atuação de operadores informais, potencializa os riscos da prática e compromete a imagem do turismo de aventura como um todo.

A Abeta ressalta que não é contrária à realização de atividades de turismo de aventura como o balonismo, mas defende que elas sejam conduzidas com total responsabilidade, seguindo rigorosamente normas técnicas e com foco na capacitação dos envolvidos. O turismo de aventura precisa deixar de ser uma atividade marcada por improvisos e se tornar um exemplo de segurança, qualidade e respeito à vida humana e à natureza.

A entidade reitera a importância de três pilares fundamentais para garantir a transformação necessária no setor: capacitação profissional, normalização técnica e fiscalização efetiva. Somente com esses elementos consolidados será possível oferecer aos turistas experiências verdadeiramente seguras e sustentáveis, sem abrir margem para descuidos que possam custar vidas.

O turismo de aventura precisa ser reconhecido não apenas como uma atividade econômica promissora, mas também como uma prática que exige responsabilidade social e ambiental. A construção de um turismo de natureza seguro, sustentável e responsável é um dever de todos os envolvidos: empresas, órgãos públicos, consumidores e entidades do setor. A evolução do turismo de aventura depende da coragem de enfrentar seus desafios estruturais com seriedade e compromisso.

Autor: Leonid Trofimov

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